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Alterações Climáticas em avaliação
Embora não tenha pretenções a adivinhar o futuro, há certas evoluções na descoberta humana que temos alguma ideia de como vão progredir.
A dialética foi introduzida por pensadores gregos, refletida por Aristóteles, considerada como um erro de lógica por Kant, tratada como um processo natural de superação das contradições por Hegel, e depois adoptada por Marx e Engels, e podemos referir, de modo simples e curto, que a evolução parece que vai totalmente para a esquerda, depois parece que o melhor é ir totalmente à direita mas afinal o melhor caminho é o do centro, mas estas fases sequenciais são mais ou menos inevitáveis.
Um parentesis para salientar que a intervenção de Marx e Engels e a incorporação da dialética materialista na filosofia comunista de vida, conduziu a uma conotação muito direcionada e ligada à sociedade material da noção filosófica de dialética.
O que descrevi no primeiro artigo sobre as alterações climáticas, é exactamente uma descrição do processo dialético da compreensão do fenómeno.
A primeira fase, relacionada com o arrefecimento global, percebe-se perfeitamente que se trata de generalização de um fenómeno natural local, mal estudado, com muito pouca informação de dados reais, que deveriam ser baseados em medições realizadas ao longo de alguns anos que permitissem retirar propostas de conclusões ou de aproximações tendenciais.
A segunda fase, relacionada com o aquecimento global, foi a repetição da primeira a partir de um ponto de vista oposto.
O conceito de arrefecimento global, parte das alterações naturais e sua influência nos fenómenos climáticos, o de aquecimento global parte da influência da humanidade e do funcionamento da sociedade, desaparecendo totalmente a componente de alterações naturais.
A evolução prevista nos dois casos não se verificou, a água doce dos glaciares da Gronelandia e calote polar norte que tem chegado ao oceano não trouxeram as consequências projetadas na hipótese de arrefecimento global, e as projeções de aumentos de gases na atmosfera e aumentos de temperatura do ar e do nível do mar simplesmente não se verificaram nem dão indícios de se vir a verificar. Medições recentes indicam que a temperatura do ar não sofre alteração desde 1950 e mesmo de antes desta data, embora alguns indicadores pareçam apontar para um aumento da temperatura média da Terra de cerca de 0,7ºC desde 1970, com base em medições da evolução da temperatura do solo, que se percebe são de medição extremamente difícil.
Foram assim iniciadas investigações mais detalhadas a estes fenómenos e foram desencadeados uma série de processos de medições reais de evolução, especialmente no que respeita aos gelos terrestres e às calotas de gelos polares e às concentrações de gases na atmosfera e sua evolução tanto no período de influência humana, a partir de 1950, como anteriormente, de influência natural, e a temperatura do ar nas suas várias camadas atmosféricas.
Mas um grupo de variáveis relativamente reduzido, vai-se transformando rápidamente numa grande quantidade de variáveis em que não se tinha sequer começado a pensar.
Será necessário considerar a criação de modelos de simulação dinâmica, gradualmente mais complexos, para avaliar estes fenómenos.
O modelo base, bastante simples, que deu início ao conceito de aquecimento global, considera o Sol como um disco com um determinado diâmetro, voltado para a Terra, com uma emissão de radiação de referência, considera a distância média Sol-Terra, não considera a variação da órbita, considera a Terra como um disco com determinado diâmetro, não considera a atmosfera no seu papel de filtro em relação às radiações incidentes, e considera um albedo tipo para a Terra.
Deste modelo resulta uma equação para a energia incidente que seria diretamente proporcional ao quadrado do raio da estrela. Mais estrela, mais radiação, parece razoável, mas talvez não.
Modelos mais recentes começam a avaliar muito melhor muitos fatores reais.
As variáveis globais que interessa saber medir e comparar com valores anteriores e futuros são inicialmente duas:
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a quantidade de radiação recebida pela Terra a partir do Sol.
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a quantidade de radiação reemitida pela Terra para o espaço.
Para que a temperatura da Terra permaneça mais ou menos constante, estas quantidades devem ser equivalentes.
Para avaliar a primeira radiação, será necessário avaliar e saber medir:
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a radiação emitida pelo Sol que chega ao exterior da atmosfera da Terra, função do tempo, da atividade solar, da distância Sol-Terra, do campo magnético da Terra, da órbita da Terra, da forma esférica da Terra e de vários outros fatores menores
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a opacidade da atmosfera da Terra nas suas várias camadas, a estas radiações
Para avaliar a radiação reemitida pela Terra, principalmente na faixa do infravermelho, é necessário saber avaliar e medir:
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o albedo da Terra, que é considerado como 0,367, ou seja absorvendo 63% da radiação incidente, mas que deve ser um fator dinâmico e que é função de:
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a capacidade de absorção dos oceanos e mares, considerando profundidades e densidades
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a capacidade de absorção da flora terrestre de acordo com os vários tipos de ocupação e densidade horizontal e vertical
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a capacidade de absorção de outras superfícies terrestres como desertos, montanhas e áreas de gelo
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a capacidade de absorção de construções humanas, edifícios, estradas, barragens, etc, embora este fator possa ser considerado menor
O terceiro fator a considerar é a emissão de gases de efeito de estufa, CO2, CH4 e vapor de H2O, CFCs e outros, essencialmente pela atividade humana, pelos animais, especialmente herbívoros, fogos, e vulcanismo.
Estas emissões terão que ser medidas e calculadas.
E também o papel desempenhado por estes gases, nas situações reais.
Depois será ainda necessário medir e calcular a quantidade destes gases reabsorvida pelos oceanos, florestas, desertos, montanhas, áreas de gelos e construções humanas e o efeito dos fenómenos climáticos na sua concentração ou dissipação.
O papel das nuvens nesta área está ainda por estudar, mas as primeiras indicações apontam no sentido de que contribuem maioritáriamente para resfriar o clima, especialmente as dos tipos stratus e cumulus, localizadas a altitudes mais baixas, entre 0 e 4 km.
Podemos, com base no enunciado no início do artigo, considerar que o primeiro fator, radiação solar que chega à superfície do planeta, está certamente sobreavaliado, mas que é função do tempo, na escala cósmica, e depende de fatores externos ao nosso controle, e que o conjunto dos outros fatores de absorção deverá estar sub-avaliado.
Os fatores que são de responsabilidade da atividade humana podem ser geridos e dimensionados de acordo com os resultados de equilíbrio pretendidos quando possível, por uma humanidade responsável e com meios de organização globais e capacidade de projetar o seu futuro.
Fernando Xavier
18 Outubro 2014