Homo sapiens / 5 / Homo sapiens e a Fauna Atual
Quando era miudo vivia em Moçambique com os meus pais e irmãos, e faziamos de carro bastantes viagens principalmente entre Xai-Xai e Lourenço Marques (Maputo) e depois numa segunda fase entre Nampula e Nacala / Ilha de Moçambique.
As estradas eram em terra e uma viagem de 200 km podia levar 5 a 6 ou mais horas, e considerando as estações do ano, no Verão, época de chuvas e monções, saímos sempre muito cedo para evitar o calor do meio-dia. À volta era ao contrário saíamos à tarde e chegavamos ao fim da tarde ou noite.
As viagens eram sempre muito animadas, aconteciam muitas coisas, furavam pneus, avariava qualquer coisa no carro, vidros cheios de pó tinham que se lavar, parávamos para refrescar e descansar, etc.
A paisagem era de savana, muito mato, árvores disseminadas, e vistas largas e longas.
Uma das principais atrações e animações das viagens eram os animais que víamos, muitas vezes na estrada, perto desta e também a alguma distância.
Havia sempre avestruzes, gazelas, impalas, gnus, hienas, raposas, coelhos, galinhas do mato, perdizes, zebras, girafas, e também leões, elefantes, bufalos, e crocodilos e hipopótamos nos rios.
Os crocodilos e hipopótamos eram no rio Limpopo, e no Incomáti, e no Monapo, principalmente, e eram paragens obrigatórias.
Com o passar do tempo, liceu em LM, perdi um pouco este contacto com o mato, mas voltei mais tarde, alguns anos, e passei em todos estes sítios.
As avestruzes, nunca mais as vi, desapareceram totalmente.
As perdizes, galinhas do mato, raposas, coelhos, ainda se viam em viagem, mas todos os outros desapareceam de vista.
Os crocodilos e hipopótamos desapareceram dos locais onde os via nos rios.
Os elefantes e bufalos, leões e espécies de maior porte, para os ver tive que passar na reserva do Maputo e na Gorongosa e no rio Zambeze, zona de Inhamitanga e Marromeu, zonas muito pouco povoadas e afastadas.
Ou seja, em pouco mais de 10 anos, os Homo sapiens eliminaram a fauna selvagem de um território muito vasto. Mas a exterminação foi sempre seletiva, primeiro os mais perigosos, e que também introduziam uma componente de adrenalina, e depois os outros, escapando a esta regra os pequenos, furtivos e os que se amansavam.
A propósito de amansar, como mencionei no ultimo artigo, referente à Megafauna, os ascendentes das nossas ovelhas atuais eram mamíferos ferozes maiores que os lobos, carnívoros e predadores perigosos, mas face aos Homo sapiens rápidamente perceberam que não tinham hipóteses e optaram por amansar, perderam os dentes de carnívoros, ficaram mais pequenos e vestiram a pele de ovelhas e foram domesticados e com esta opção salvaram a espécie.
Outra questão que me preocupou durante anos, foram as ossadas, esqueletos de elefantes que vi várias vezes em miudo em alguns locais, e em grande numero.
Sempre achei estranho como estavam tantos ossos juntos num local.
Perguntei e sempre me disseram que os elefantes gostavam de morrer todos no mesmo local, tinham cemitérios.
Bastantes vezes pensei no assunto e imaginei um elefante moribundo, a arrastar-se pelo mato para ir morrer no seu cemitério.
Só mais tarde percebi que se tratava de cemitérios, é verdade, mas escolhidos pelo Homo sapiens.
E nunca lá tinha visto as presas dos elefantes.
Quando vivia no Xai-Xai, íamos muitas vezes à praia que ficava a 10km da vila, localizada junto do rio Limpopo.
A praia era muito perigosa porque havia tubarões e todos os anos alguém morria ou perdia uma perna por ataque de tubarões, a poucos metros da areia. Especialmente os turistas sul-africanos que se aventuravam mais.
Foi iniciada uma guerra aos tubarões, com iscos envenenados, explosivos, pesca da praia, pesca de barco, mas não foi possivel terminar com os tubarões, ou porque havia muitos ou vinham outros.
As autoridades acabaram por montar uma rede dentro de água, talvez 500m, e só se devia nadar dentro da rede.
Mas sempre acontecia qualquer coisa, os tubarões entravam na rede, por cima ou por baixo e voltava tudo ao mesmo.
Lembro-me, na minha mentalidade de miudo sapiens, de pensar várias vezes neste problema e de como seria possível acabar com os tubarões. Quem sai aos seus não degenera.
Claro que esta ideia ocorreu a muitas pessoas pelo mundo fora, e foi instaurada uma caça ao tubarão, guerra não oficial mas muito ativa, de tal maneira que entraram em vias de extinção, deixaram de atacar os sapiens.
Ainda há cera de 1 mês, na Austrália ocidental uma pessoa morreu por ataque de tubarão, e foi reiniciada a caça localmente, prontamente denunciada pelas associações de defesa das espécies e a caça foi suspensa.
O que acontece a um cão que morde a um sapiens?
É imediatamente abatido.
Fernando Xavier
10 Outubro 2014