Antonieta Costa antonieta_c@hotmail.com
Crónicas de uma causa mal-amada -1
A Serra do Cume
A falta de informação pública do modo como está a decorrer esta investigação (resultante do meu projecto de pós doutoramento com a Universidade do Porto), levou a que muita fuga à verdade acontecesse.
A falha da minha parte não foi propositada. Deveu-se antes ao facto de esta fase do estudo em que tentei integrar a perspectiva fenomenológica na Antropologia do Espaço (disciplina de base desta abordagem aos achados da Ilha Terceira) ter demorado um pouco mais do que o previsto. Depois foram os resultados, inesperados, que me deixaram perplexa e necessitando de um tempo de reflexão.
Isto fez com que o público directamente afectado por tais acontecimentos tenha sido deixado na ignorância sobre os mesmos, ou então - ainda pior - sujeito às tresloucadas notícias que de vez em quando surgem, desviando a atenção para outros aproveitamentos.
O presente estudo tem o título oficial de "Paisagens Rupestres da Ilha Terceira" e está a ser divulgado em Inglês, por uma editora académica Alemã.
Embora a divulgação pública do decorrer (em simultâneo) de cada investigação científica não seja prática académica habitual, neste caso em particular irá acontecer como experiência pedagógica, no âmbito de uma nova abertura entre a universidade e o cidadão comum (especialmente aquele directamente implicado nos resultados), prática com a qual me comprometi. Visa não só derrubar o mistério que foi artificialmente criado à volta da "ciência" (numa almofada de segredos que a distância permite conservar), mas, principalmente, facultar ao público modos de participação no processo. Os instrumentos de análise são, no caso em estudo, a apreciação da paisagem sob diversas perspectivas. Trata-se de a olhar de modo diferente do aplicado nas pinturas românticas, que a exploravam tanto no belo, quanto no horrível, apenas através de emoções codificadas. No caso presente, pretende-se facultar um gradual descobrir e aprofundar de elementos da paisagem que, observados pela óptica anterior poderiam escapar à atenção, mas que vistos assim, informam acerca de uma história por ela sofrida, de ocupações e manipulações culturais anteriormente insuspeitas. Porque são marcas de uma história desconhecida, mas pertença de cada um destes locais, constituem-se como uma herança que obrigatoriamente deve ser reconhecida e transmitida a esta e outras gerações. Em simultâneo, a narrativa a produzir, ao unir o humano à sua geo-dimensão, promove o aprofundamento e conhecimento dessa parte de si próprio e do modo como a natureza se lhe impunha no passado.
Numa sequência semanal serão apresentados não só estes dados como também alguma da literatura acessível pela Internet. Estarei disponível para esclarecer outras dúvidas.
10 Novembro 2014
Crónicas de uma causa mal-amada - 2
A Serra do Cume
Um olhar do cimo da Serra do Cume sobre a paisagem, invulgar nos Açores, de uma grande planície circular de cerca de 6 km de diâmetro, toda cultivada em “cerrados” ou parcelas simétricas, não levanta suspeitas quanto aos mistérios que esconde. Mas na verdade, só aparentemente a sua beleza corresponde uma realidade inocente. Porquê? Porque os seus recantos ocultam profundos mistérios, guardados não se sabe como.
De certeza que, ao longo de centenas de anos, olhares perscrutadores já os tinham divisado, mas falou mais alto a voz do senso comum, e quem não se quer aborrecer deixa ficar assim: dificilmente se consegue ir contra o que, na opinião pública, está definido de determinada forma. Só recorrendo a uma observação isenta de pré conceitos, ou livre dos ditames da cultura, embora essa não seja uma atitude fácil de assumir.
Prescindir do que culturalmente se sabe (neste caso, sobre uma paisagem) e prepararmo-nos para aceitar o que de facto os olhos nos revelam – é no entanto possível, como nos explica Christopher Tilley em “The Materiality of Stone - Explorations in Landscape Phenomenology”(1), ou Barbar Bender em “Stone Worlds”, ambos os autores Professores na London University Colledge. Ao longo da sua vida académica têm desenvolvido um método de investigação orientado para a obtenção de informação proveniente da observação da paisagem. Baseia-se na utilização de uma percepção fenomenológica, que utiliza predominantemente meios sensoriais (preferindo-os aos racionais), apurando a sua sensibilidade e exacerbando a informação que transmitem. A Escola Fenomenológica da percepção, proveniente de Edmund Husserl (1859-1938) defende que a apreensão da realidade mais fundamentada nos sentidos (do que na razão, a qual é moldada pela cultura) permite que os factos cheguem ao consciente menos distorcidos pelo processo cultural e portanto, mais próximos da realidade física. Esta linha de estudo, que tem sido muito contestada (designada como “Pseudoarqueologia” pela academia), tem sido aplicada principalmente em casos onde os resultados de estudos arqueológicos não coincidem com a realidade. Os dois autores acima citados (entre muitos outros) têm conseguido através deste método (considerado não “científico” pelos oponentes) não só remediar casos controversos, como também patentear novos sítios para futura pesquisa arqueológica.
No caso do presente estudo, o primeiro “sinal de alarme” ou de discrepância em relação ao conhecimento histórico existente sobre a área da Serra do Cume, foi dado pela aglomeração de grandes pedras com formato e dimensão estranhas, inseridas nas paredes dos campos. Só por si não seriam suficientes para colocar em dúvida a história, mas foram um bom começo, como se irá ver.
Antonieta Costa - antonieta_c@hotmail.com
27/11/2014
Crónicas de uma causa mal-amada - 3
Serra do Cume
Foram rochas com forma e dimensão estranhas, integradas nas paredes dos cerrados do planalto chamado “Serreta”, situado no declive entre o miradouro da Serra do Cume e a planície, que primeiro me chamaram a atenção nesta paisagem, de tal maneira se assemelhavam a outras que tinha recentemente visto (Carnac na França, ou Drombeg na Irlanda).
Quem segue ao longo do planalto em direcção a S. Sebastião, não pode deixar de notar que a aglomeração destas rochas nos muros aumenta a tal ponto que por vezes são elas próprias as únicas a formarem-nos. Embrenhando-nos pelos vários caminhos desta Serreta, a paisagem extremamente diferente, composta por rochas inexplicáveis (neste ambiente insular) que parecem multiplicar-se até ao infinito, deixa-nos perplexos. A meu pedido, um organismo oficial está a proceder à sua planificação, mas a superfície que cobrem está calculada em mais de 3 km2 de extensão. Em termos geológicos, trata-se de traquites com elevada percentagem de sílica e com uma forma predominantemente triangular (embora também paralelepipedal) e distinguem-se das basálticas a que estamos habituados, quer pela superfície mais suave e clara, quer pela volumetria que exibem.
A perturbação que causam não poderá dever-se apenas a estes aspectos, mas principalmente por levantarem a questão do seu manuseamento. Se fossem apenas algumas, ainda se entenderia, mas naquela quantidade! Que tecnologia foi usada na sua manipulação? Como foi possível levarem-nas abaixo e acima e colocarem-nas nos lugares que ocupam agora? Quem fez esse trabalho? Quando?
Demasiadas questões sem resposta contribuem para fazerem deste sítio um enigma embaraçoso. O suficiente, pelo menos, para se achar estranho que estas perguntas não se tenham colocado anteriormente às pessoas que diariamente aqui passam, ou então, aos muitos visitantes levados a admirar a paisagem da Serra do Cume. Porém, se fossem apenas estas as interrogações, ainda seria possível e admissível encontrar respostas. Mas sucede que muitas destas rochas estão gravadas com vários tipos de incisões e, então, já se torna cada vez mais estranha a falta de curiosidade a seu respeito.
Com efeito, caminhando ao longo destes muros e observando estas rochas, é-se surpreendido por toda uma variedade de riscos, uns largos e muito profundos, outros parecendo já muito desgastados pela erosão, uns simétricos e paralelos, outros perpendiculares, formando ângulos retos, ou figuras geométricas (raramente circulares, mas com muitos triângulos e alguns quadrados). À pergunta - Como foi possível que todo este manancial de informação não tenha incomodado as pessoas que, ao longo de séculos, com ele conviveram? Respondo com o “hábito” - ou o senso comum, mas haverá outras razões, tais como as que levaram Barbara Bender a recorrer à fenomenologia para a percepção da paisagem. Tem graça a forma como se lhe refere: … as paisagens têm uma presença material inquestionável, no entanto, só se tornam reais ao serem apreendidas por um observador externo… (Bender:1993). É isso que sou (ou faço por ser!)
04/12/2014
Crónicas de uma causa mal-amada - 4
A Serra do Cume
Se por um lado foi a estranheza causada pelo tipo de rochas, comuns nesta parte da Serra, que me incitou ao seu estudo, por outro foi também o aparente desinteresse que causavam, que aliás só aumentou o meu... Perante tal facto impôs-se de imediato investigar o enquadramento geral: o que rodeavam ou o que as rodeava. Numa primeira incursão, a corta-mato e procurando “sentir” o ambiente na sua máxima (possível) abrangência, pareceu-me que seriam os afloramentos (outcrops), os sítios onde a rocha mãe (bedrock) fica a descoberto, e logo procurei literatura sobre o assunto. Muita! E disponível na Internet. Esta nova disciplina, a Antropologia do Espaço, fornece-nos instrumentos de observação da paisagem equiparáveis aos da Arqueologia. Partindo do princípio de que toda a experiência humana é espacializada e de que as suas marcas ficam impressas na paisagem, basta lê-las, tendo sempre em conta que o espaço (tanto arquitectural como natural) é construído socialmente. Ele, espaço (neste caso a paisagem) por ser a área de intersecção entre o social, o emocional e o material, reflecte ideias sobre nós próprios e sobre as nossas sociedades. Assim nos diz muita da literatura (buscando pelos termos em inglês) e assim constatei na experiência.
Os outcrops são passíveis de estudo. Logo o primeiro que se encontra (seguindo na direcção Norte/Sul, no início do planalto), esclarece muito. Rodeado das tais rochas ”dente de tubarão”, desenvolve-se em socalcos na direcção Este/Oeste. Na bibliografia sobre locais semelhantes é aí que se encontram várias e com diferentes marcas culturais. Aqui também! As inicialmente mais evidentes foram as pias. As dúvidas quanto à sua natureza (seriam resultado da erosão?), ou quanto às suas funções (bebedouros para gado?) foram-se dissipando com o elevado número e as colocações. Assim tornaram-se o novo ponto fixo dentro dos outcrops… Seriam as pias o objecto de estudo (conforme me aconselharam). Pelo menos por enquanto…
Este afloramento onde começa o estudo oficial (do projecto de pós doutoramento) não cessa de me surpreender! Desenvolvendo-se obliquamente em direcção ao Oeste, termina abruptamente na beira de uma escarpa. Depois fui informada que continua pela escarpa, a coberto da vegetação, parcialmente endémica. Com a Daniela, arquitecta paisagista que apoia os aspectos técnicos, avançámos pela escarpa e a sua máquina fotográfica revelou o que escapava ao olhar singelo. Formas estranhas: bichos? Gente? Povoam o acentuado declive. A erica azorica proíbe cortes mas as fotos comprovam-no. O afloramento tal como a literatura tinha indicado, foi um centro de grande actividade. Qual o tipo? Não se sabe. Mas pias, figuras estranhas, rochas e inscrições acumulam-se à sua volta. Só preciso reanimar este cenário, experimentar os vários percursos entre os objectos, para tentar apreender o sentido que possam ter tido. Assim o diz Ruth Van Dyke em “Phenomenology in Archaeology” acessível em: https://www.academia.edu/3411575/Phenomenology
Crónicas de uma causa mal-amada - 5
A Serra do Cume
A minha atitude perante o primeiro outcrop marcou o futuro estilo desta investigação. Foi nele que tudo se descobriu (até agora) e foi nele que se foi dando a metamorfose sobre o modelo inicialmente apresentado à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Considero-o por isso uma espécie de cadinho onde se vai fundindo o paradigma ideal. Continua, como de início, a paisagem a ditar as ordens. Mas a sensibilidade posta na sua leitura aumenta a cada instante, tanto na percepção de como utilizar os ditames da fenomenologia, como no discernimento da sua aplicação directa na Serra do Cume, sendo que tudo aconteceu no primeiro outcrop ou afloramento. Porém, a atrapalhação, a incerteza, todas as hesitações (quererá “isto” dizer “aquilo”?), recuos e avanços, não estavam ainda em condições de se tornarem públicos, no diálogo informal (e, por isso mesmo, mais difícil) com que me tinha comprometido no projecto inicial. Mas teve que ser, pelo menos no que se refere à edição em Inglês, devido à exigência da editora Alemã que me propôs editar todo o meu trabalho de pós doutoramento, mediante rigorosa exclusividade na informação (e eu temia que esta escapasse…)
É assim que, desde Junho passado, estou em dívida para com o público mais directamente afectado – o de S. Sebastião (assim como toda a Ilha Terceira), embora presentemente já tenha começado a indemniza-lo…
Voltando ao primeiro outcrop. Só depois da minha “escalada” com a Daniela e, mais ainda, depois de uma sua fotografia da encosta vista do lado Oeste, foi que a percepção do papel que as estranhas formações rochosas teriam em todo o conjunto começou a delinear-se. Afinal, parecia ser sobre essas figuras que tudo se desenrolava! Mais: avançando ao longo da estrada para Sul, descobri mais figuras destas com o mesmo arsenal de complementos!
De regresso à pesquisa bibliográfica, consegui obter da Internet obras de vários autores sobre situações semelhantes. Praticamente todas (embora de diferentes autores) situam-se na região da antiga Lapónia (partes da Finlândia, Suécia, Noruega, Letónia e Rússia). Um dos autores mais notáveis – Antti Lahelma, Professor na Universidade de Helsínquia, não se conteve sem demonstrar a sua incredulidade perante o que lhe relatei (claro que por ser nos Açores…) No seu livro “A Touch of Red” (com PDF acessível em https://helda.helsinki.fi/handle/10138/19406 ), conta como pesquisas arqueológicas realizadas junto de formações rochosas semelhantes a pessoas e animais revelou objectos de culto, camadas de cinzas de possíveis rituais, etc., sendo tradição junto do povo Sámi (Lapão) crenças sobre a natureza destas figuras, supostamente materializações de espíritos da Terra.
O processo de comparação, longo e minucioso, entre tais crenças e os vestígios da Serra do Cume não pode ser descrito neste tipo de documento. Tudo indica, porém, que algo semelhante terá acontecido com a utilização dos outcrops e que práticas culturais ali acontecidas terão sacralizado aqueles espaços.
18/12/2014
Crónicas de uma causa mal-amada - 6
A Serra do Cume
São já vários os indicadores apontando uma possível ligação entre os vestígios encontrados na Serra do Cume e hábitos dos países do Báltico. Para além do culto prestado a rochas semelhantes a animais e pessoas está também o estilo de muitas das incisões encontradas nas rochas, que é idêntico a outros da Ilha de Gotland, na Suécia. Lá são denominados “grooves” e têm sido alvo de estudos. Comparando-os com os da Terceira não parece existir diferença. Na Suécia este tema foi particularmente estudado por Sören Gannholm, investigador da Universidade de Upsala, com quem tenho estado em contacto e que defende tratarem-se (os da Suécia) de formas de calendário ou medição do tempo. Existe mesmo um “paper” seu acessível na Internet: “The Gotland grinding grooves”, para quem estiver interessado. Mas uma simples busca à palavra “grooves” facilita fotos onde é possível comprovar a semelhança com os traços inscritos nas rochas da Serra do Cume. São sulcos profundos, extremamente bem cortados, com uma aresta muito fina e perfeita que levanta interrogações sobre o tipo de instrumento utilizado. Consultados vários Geólogos quanto à possibilidade de se tratar de um fenómeno natural resultante, por exemplo, da inclusão, na lava, de materiais que tivessem ficado fossilizados, são unânimes na negativa. Na verdade, mesmo que essa explicação tivesse aceitação para alguns, não o seria para todos os casos, pois o tipo de desenhos que formam não suportaria tal tese.
Aos grooves e ao culto vem acrescentar-se um outro reforço, este genético. Não se trata apenas da ligação aos chamados “ratinhos Vikings” (igualmente presentes na Ilha da Madeira), mas também de um “misterioso” gene Mongol, descoberto na população dos Açores, este último, remetido ao silêncio, pois poderia levantar grande celeuma…
Mas, por outro lado, os “grooves” do Báltico (e da Terceira) aparecem também noutro extremo do Globo, em Santa Catarina, no Sul do Brasil! Trata-se, portanto de um fenómeno que abrange o Atlântico, pelo menos nesses dois pontos. Segundo Barry Cunliffe, pela sua repetição podem ser um interessante objecto de estudo, para a certificação do qual já aconselhou algumas técnicas (em preparação). Mas é preciso não esquecer que sulcos semelhantes a estes, também existentes na Grota do Medo, foram classificados por uma senhora arqueóloga como “furos de broca” (como vi numa reportagem da RTP Açores!), classificação insustentável, pois por vezes têm forma curva… Mas na altura foi suficiente para lançar confusão.
Na verdade, achados deste tipo deixam os apologistas do positivismo científico desorientados por não encontrarem no paradigma histórico oficial resposta para eles, optando então pela negação da evidência, facto que só contribui para a desautorização da ciência.
Com o estudo da Serra do Cume esta situação não só se repete como ainda é exacerbada por outro facto: a composição das rochas, nas quais a elevada concentração de sílica (supostamente o elemento catalisador dos restantes fenómenos ser também assunto desagradável aos positivistas…
24/12/2014
Crónicas de uma causa mal-amada -7
A Serra do Cume
O facto de a sílica ser um componente de elevada concentração nas rochas da Ilha Terceira, onde, segundo J.C.Nunes, existem cerca de centena e meia de formações vulcânicas de natureza siliciosa (contrastando com apenas cerca de cem basálticas), percentagem muito mais elevada do que a das restantes oito ilhas, e o facto desse fenómeno ser ainda mais notório na Serra do Cume e Ribeirinha, por essa concentração lá ser maior, parece indiciar que a ocorrência dos achados relacionados com rochas neste local possa dever-se à circunstância da sua abundância de silicatos.
Sucede que a composição das rochas com muita densidade de silicatos é também comum aos sítios de construções megalíticas do passado. Fenómenos que ocorrem nestes sítios, embora não tendo ainda sido estudados convenientemente, estarão relacionados com o magnetismo terrestre, do qual a sílica é um bom condutor. A emanação magnética dessas rochas foi fotografada com câmaras especiais, por um processo criado por Gilbert le Cossec, conforme se pode ver em https://jiroolcott.com/sacred_stones.html sendo inegável perante tais provas.
Essa dimensão da sua natureza, ainda pouco reconhecida pelo mundo académico, produz no entanto efeitos notáveis sobre o ambiente, particularmente nos seres vivos, não só humanos, mas também em muitos outros animais. No Alentejo onde é comum encontrarem-se grandes megálitos, podem observar-se no chão marcas dos desvios que certos animais fazem para deles se afastarem. Também já aconteceu a arqueólogos que estudam as suas inscrições não poderem permanecer por muito tempo próximo deles. Há portanto que ter em consideração esta natureza das rochas, quando se procede a uma leitura da paisagem cultural da Serra do Cume.
O facto de parecer haver uma concentração de materiais culturais (pias, inscrições, rochas triangulares, etc.) junto de grandes formações rochosas naturais, como são as figuras de bichos e pessoas, e de essa combinação acontecer tendo por base rochas cuja composição é elevada em silicatos, poderá ser encarado como seguindo o mesmo princípio (ou semelhante) ao que levou no passado à construção dos centros megalíticos conhecidos na fachada Atlântica Europeia. Pode-se mesmo conjecturar que usariam a concentração de sílica nas enormes rochas, para vários fins (pensava-se que apenas como “centros espirituais”) entre os quais os terapêuticos, pois a leitura que actualmente se faz da sua possível utilização nas culturas megalíticas passou a ser entendida como a de “hospitais”, onde, no passado, as pessoas poderiam obter um alívio para certos males, curáveis ou beneficiando de melhoria (tal como agora se faz com a esteira electro-magnética, para alívio da dor crónica). Muitos destes locais, durante os primórdios da cristianização, mantiveram a sua reputação ambígua de “curadores” de males. Vários edifícios de culto, como ermidas e mesmo igrejas, em Portugal como noutros países da costa Atlântica, foram construídos em cima desses maciços rochosos, dos quais destaco o Monte Saint-Michel.
30/12/2014
Crónicas de uma causa mal-amada - 8
A Serra do Cume
Pretendendo encerrar a linha de especulação (no que se refere às supostas propriedades das rochas da Serra do Cume), proponho ainda uma referência de grande importância: a relação do magnetismo com a água. Sabe-se agora que a água “estruturada”, ou submetida à influência de uma corrente electromagnética, tem poderes curativos e antibacterianos inconcebíveis, estando a começar a ser utilizada até como despoluente de rios e pântanos. Como todos os assuntos relacionados com magnetismo, este também foi excluído de certa esfera académica, o que ironicamente não impediu que, pelo seu real interesse, se tenha transformado em nova estrela dos mercados de consumo. Sustentado por todo um arsenal de equipamentos destinados à “estruturação” da água, possível de conseguir aplicando na tubagem de entrada dos apartamentos domésticos um pequeno dispositivo electrónico, está acessível ao público em informação por exemplo, como neste endereço:
https://www.structuredwaterunit.com/What_is_Structured_Water.html#sthash.bRNEc7E2.dpuf
Para quem não está a par destes rápidos avanços da ciência ligada aos interesses das sociedades do consumo, tal assunto poderá parecer aqui deslocado, mas na realidade ele indicia uma possível ligação entre a sílica e a água, que poderá esclarecer a preferência de populações arcaicas pela utilização de rochas siliciosas, muito especialmente se tivermos em consideração que o corpo humano é constituído por cerca de 70% de água e que (pressupostamente) esta se estrutura automaticamente sob a influência do magnetismo existente nessas rochas.
A integração deste novo entendimento no quadro de estudo tem em consideração a influência organizativa que sobressai na construção social do espaço, correspondendo ao que sugere a Antropologia do Espaço. Lembro o exemplo clássico de C. Lévi-Strauss (um dos fundadores da disciplina), ao sugerir que a acção dos missionários Salesianos na Amazónia, ao reconstruírem as aldeias sob novo plano arquitectónico, foi consciente e propositada tendo em vista conseguirem dos indígenas (com a desorientação que um novo plano habitacional causa), o abandono das suas crenças e uma melhor concentração na doutrina Cristã (Tristes Trópicos, Edições 70, p.215).
No caso em estudo, levanta-se a hipótese de o papel exercido pelas pias, ao serem situadas junto de (ou sobre) grandes aglomerações de rochas (os outcrops) que se sabe terem elevada composição de sílica, ser um reflexo da organização social desse grupo. Nesse caso, seriam as pias peças centrais numa espécie de “centros espirituais/hospitalares”, que se organizariam em estreita relação com os outcrops?
Se a função das pias (neste novo enquadramento), obedecesse à mutualidade de influências existente entre cada espaço e o grupo social que o habita, então a observação da paisagem terá que reorganizar-se sob esta nova óptica. É em função dela que o estudo das pias prossegue, avançando para além da realidade física e buscando a essência desta, tal como aparece expressa nas respostas materiais.
Crónicas de uma causa mal-amada - 9
A Serra do Cume
O tipo de “Paisagem Rupestre” presente na Serra do Cume, é um dos que só começa a revelar-se quando sujeito a um enquadramento como, por exemplo, o fornecido pela Antropologia do Espaço (1), pois só uma indagação meticulosa das possíveis interacções estabelecidas entre este local e o homem que o habitou, poderá permitir algum avanço no seu conhecimento. Esta “indagação” faz-se através de uma observação que, embora rigorosa, tem de ser desprovida de preconceitos e manter-se sensível aos indicadores ambientais.
Um dos indícios aparentemente mais promissores é o da ligação que parece existir entre os sinais culturais encontrados (pias, riscos e rochas piramidais) e as figuras semelhantes a pessoas e animais, surgidas dos outcrops. Por muito duvidoso que esse indicador pudesse parecer, foi ele que resolvi seguir.
Parti então do cimo da Serra, descendo com o Tiago pelo lado Sul (a corta-mato) pesquisando os afloramentos (outcrops). Havia muitos. Logo no entroncamento com a estrada da Serreta, onde estão situados os dois primeiros Grupos, ficam o Grupo 3, logo seguido do 4. Ambos compostos por impressionantes esculturas naturais que parecem mirar as pastagens em baixo: no Grupo 3 formado por duas grandes cabeças “humanas”, de cerca de 3m de altura; ou no 4 por um grande “sapo” com o dobro do volume delas; ambos sondam o ambiente envolvente, numa postura de serena atenção que nos envolve e convence. A estrada passa-lhes por detrás (quase por cima, no Grupo 3) o que permite ficarmos lado a lado com elas, sem nenhum esforço. Isto quer dizer que estão acessíveis a um tipo de observadores com pouca mobilidade física. Tal pormenor, muito importante no meu estudo, visto este incluir um projecto a propor a agentes de turismo (tendente a rentabilizar os bens que forem sendo demarcados), vai-se tornando, no entanto, quase ciclópico.
Na tentativa de seguir em paralelo esse outro propósito, recebi de bom grado a proposta de colaboração da Empresa Gado Bravo. Em companhia da Rute, visitámos as três Juntas de Freguesia da área, marcámos reuniões propusemos visitas guiadas, tudo na tentativa de os entusiasmar. Mas talvez o salto seja demasiado grande para o início. Embora apreciem a ideia, mostram-se receosos. Quem gostaria de vir de longe, ver pedras? Perguntam-me. E vão abrindo as cancelas dos pastos à entrada das vacas, com quem temos de negociar a passagem… Nada de grandes mudanças!
Também não consegui ainda que se resolvessem a marcar sessões de PowerPoint para cada Freguesia como propus, a fim de proporcionarem aos moradores um conhecimento oficial deste património.
Mas vagarosamente vai fluindo a novidade da presença de outras épocas. A verdade nua e crua pode ser dose demasiado forte, para muitos. Mas para outros (como o Tiago Dutra), que se deixam impregnar pela atmosfera envolvente, é facilmente apreendida. De um curto passeio saiu um conto admirável, que em meia dúzia de linhas edifica todo um transcendental mistério: “O último Viking dos Açores” (no Facebook).
Como terá sido, no passado?
(1)Ver em Antropologia do Espaço, Filomena Silvano, Assírio e Alvim, 2010
Crónicas de uma causa mal-amada - 10
A Serra do Cume
Mobilizei então a família convocando filhos, sobrinhos e sobrinhos netos, irmão, etc. e escalonando-os por dias, fiz com que me acompanhassem, porque é demasiado arriscado neste piso incerto, aventurar-me sozinha… e fui continuando a busca pelos outcrops do lado Sul e Sudeste da Serra do Cume. Encontrei mais três e todos com as características dos primeiros. Embora se possa dizer que sempre diferentes, estes também são iguais, no sentido em que reúnem os mesmos sinais culturais.
São, portanto, sete (embora ainda haja lugares deste lado por explorar), mas a sua repetição garante-lhes (como afiança Barry Cunliffe), o estatuto de construção deliberada. Esta é uma prova decisiva (que terá talvez contribuído para a mudança de atitude governamental para com os achados) mesmo na ausência do teste arqueológico por excelência: escavações e datações.
Por insistência minha vários departamentos começaram a participar, cedendo informação (mapas, equipamentos, etc.) e mesmo técnicos, a exemplo do que tinha feito desde o início a empresa privada Projectangra. Mas singularmente, a Direcção (científica) do Geoparque dos Açores (entidade que melhor deveria acolher tal informação) mostrou-se relutante. Segundo os aconselhamentos que vou recebendo (da orientadora do meu pós doutoramento), os novos indicadores descobertos legitimam uma candidatura de toda esta área a uma classificação diferenciada dentro do Geoparque, com as figuras (cabeças, animais, etc.) protegidas pelo estatuto de “geomonumentos”. Porém, todos os esforços feitos foram inúteis face a posições, até agora irredutíveis. E, no entanto, a classificação deste bem patrimonial e o seu reconhecimento como tal é essencial antes de qualquer diligência com finalidade turística, pois encontra-se dentro da área do “geossítio da Serra do Cume”, onde o turismo é condicionado por normas específicas. Será esta mais uma “pescadinha de rabo na boca”? Prefiro pensar que se deve apenas a um atraso na introdução da informação referente à Ilha Terceira, como aliás é fácil comprovar numa mera visita ao site. Embora ainda jovem (formou-se em 2010), parece ter dedicado quase toda a atenção destes cinco anos a S. Miguel e Santa Maria. Quanto ao Geossítio da Serra do Cume ainda nem está devidamente referenciado (apenas numa lista à parte). Portanto, o objectivo de rentabilizar estes achados através de um turismo específico (conforme inscrito no meu projecto), irá encontrar grandes dificuldades. Tudo será solucionado, penso, mas entretanto, anos irão passar e as oportunidades definhar…
Mas esse não deverá ser um impedimento à sua divulgação tendo em vista tanto os habitantes locais, a quem o tipo de paisagem não será indiferente, como para os seus congéneres do Norte da Europa (Finlândia). As obstruções ao seu acesso, como centro turístico, não deverão impedir o usufruto do seu valor imaterial que, tanto lá como cá se matem inalterável, magnífico na sua intangibilidade.
Crónicas de uma causa mal-amada - 11
A Serra do Cume
A 18 de Setembro de 2014, com a intenção de informar o público local sobre os achados da Serra do Cume, proferi uma palestra na Biblioteca Pública de Angra, no formato de uma descrição geral do projecto, com apresentação em PowerPoint. Na altura alguns presentes contestaram-me por não mostrar intenção de conseguir explicação sobre a natureza destes achados, e nem mesmo desenvolver um verdadeiro esforço nesse sentido. Disse que, um pouco por todo o mundo, estavam a aparecer vestígios deste tipo e que ninguém ainda conseguira encontrar o método adequado ao seu estudo. E embora tivesse referido ser essa também a opinião de grandes arqueólogos, as contestações subiram de tom.
Retomo então aqui esse momento para aclarar as razões, recorrendo à opinião do especialista francês André Leroi-Gourhan (1911-1986), o qual, por ter formação em todas as áreas em questão, se torna insuspeito: antropólogo, arqueólogo, paleontólogo e paleoantropólogo. No seu livro “As Religiões da Pré-História” (Edições 70, 2007), descrevendo os problemas deste tipo de investigação afirma que “A principal diferença entre as fontes do pré-historiador e as fontes do historiador é o facto do primeiro destruir o seu documento ao escavá-lo” (p.27), referindo que a informação detalhada sobre posição, orientação do objecto, etc., nunca é total, perdendo-se assim o acesso ao sentido que este teria (particularmente quando se trata do religioso). Devido a essa falha, a sua opinião sobre o método da escavação é clara: “Por muito que nos custe reconhecê-lo, podemos considerar que a ciência pré-histórica, mais que centenária, ainda permanece na infância. A nível das escavações, amadureceu naqueles domínios em que a observação era fácil, restando-lhe ainda praticamente tudo a aprender nos outros.” (p.28). Como a antiguidade do objecto de estudo o torna cada vez mais difícil de ser documentado, afirma que “O que salva em certa medida o Paleolítico superior é a existência de milhares de documentos de arte, que podem ser tratados estatisticamente, revelando a sua organização de conjunto” (p.28), de onde se deduz que, por serem tão antigos, jamais haveria acesso ao seu sentido de outro modo.
Foi esta descrença no papel que a arqueologia tradicional tem desempenhado nestes casos de vestígios muito antigos, (possivelmente) anteriores ao Neolítico, que me fez optar por outras formas de investigar e documentar os achados aqui em questão. Veja-se a exemplo os relatórios que diferentes grupos de arqueólogos produziram quando (a convite das autoridades locais), visitaram a Ilha e se pronunciaram sobre a Grota do Medo e outros achados. A possibilidade de não estarem capacitados para apreender a realidade do que se lhes deparou poderá dever-se a uma “cegueira” específica, uma visão demasiado especializada, que ainda aumenta as dificuldades referidas por Leroi-Gourhan.
No caso presente, comprova-se que a Antropologia do Espaço, associada à perspectiva fenomenológica, demonstrou a competência necessária, oferecendo um reforço à Arqueologia (conforme recordam Bender e Tilley). Isto no entanto não impede que se continue indefinidamente à espera do outro “veredicto”.
CRÓNICAS DE UMA CAUSA MAL-AMADA -12
A SERRA DO CUME
Chegada ao fim desta fase da investigação (e prestes a iniciar a da Serra da Ribeirinha) comparo os resultados com os objectivos iniciais e verifico que: a) foi completada e publicada (1) a identificação/caracterização dos achados através da antropologia do espaço; b) notícias sobre os mesmos atingiram (oficial e oficiosamente) quer as autoridades locais quer centros de estudo no país e no estrangeiro - de tal modo que ignorá-los agora já não será considerável distracção nem atitude justificável; c) as populações que mais directamente poderão fruir este bem, tanto como benefício cultural como produto económico, foram elucidadas sobre as potencialidades ali existentes. Assim, alguns dos propósitos foram cumpridos. Quanto aos outros, aguardo que o processo psicológico de acomodação desta nova informação vá acontecendo, respeitando o ritmo de cada um. Por mim, egoistamente espero que não demore muito... Especialmente para que não se perca o elam criado, de cujo “clamor público” poderá resultar o anunciado reconhecimento pela autoridade responsável. Mesmo sabendo que este projecto irá sempre colidir com os desígnios políticos sobre as áreas do arquipélago destinadas ao desenvolvimento turístico (nas quais a Terceira nunca teve grande relevo), confio que o respeito pelos direitos dos cidadãos ao gozo de um bem público (cujo interesse ultrapassa o âmbito nacional) venha a acabar por se impor. Saberão os terceirenses utilizar esse “clamor público” no próprio desenvolvimento económico? É o que deixo nas suas mãos e nas dos seus defensores oficiais, aliás, numa tarefa cada vez mais facilitada pelo constante surgir de novos achados/provas.
Por outro lado, este estudo está a operar maravilhas na transferência do saber teórico para o empírico, honras prestadas à fenomenologia, que Breden e Tylley utilizam em opções pragmáticas, mas da qual uma verdadeira lição nos é transmitida por Hubert Dreyfus numa longa palestra/entrevista disponível (audível) na Internet em: https://www.youtube.com/watch?v=aaGk6S1qhz0
Aí, a proposta dos dois filósofos mais responsáveis pela transformação do pensamento moderno, resumida em “Husserl, Heidegger and Modern Existentialism” é debatida em termos comuns, bastante acessíveis, revelando detalhes dessa nova aproximação ao “conhecimento”. Qualquer pessoa interessada em corrigir as “entorses epistemológicas” a que foi sujeita devido à predominância do processo “racional” de pensar, pode exercitar-se pondo em prática a abordagem fenomenológica na Serra do Cume. Garanto-lhe que terá uma experiência inolvidável!
Por fim, quanto à vertente arqueológica, e na sequência do que foi aconselhado por Barry Cunliffe, a vinda de um especialista britânico em arte rupestre pré-histórica (por ele indicado e através da Câmara de Angra) irá testar as potencialidades ali expressas, assim como na Serra da Ribeirinha, aparentemente congéneres e que nos espreitam do outro lado da grande planície: resultados que prometo tornar públicos por este meio, embora sem a mesma regularidade (e se me for concedido espaço) mas também pela publicação académica, que vai correr mundo através da Amazon.com, assim como pela apresentação em congressos (já programada). De qualquer modo, a divulgação desta nova “geografia Atlântica” já não será silenciada.
(1) “The Rock Basins of Serra do Cume” Amazon.com
A Serra do Cume - 13
A vinda do arqueólogo e antropólogo britânico George Nash (indicado por Sir Barry Cunliffe) à Terceira, com a finalidade de colaborar na investigação em curso na Serra do Cume, causou uma grande alteração no que foi a primeira dimensão do empreendimento. Recordo que inicialmente, este projecto (a executar através da Universidade do Porto) destinava-se à realização de um simples registo das muitas bacias talhadas na rocha mãe. A enorme quantidade destes objectos, o facto de as pias serem “entalhadas” em rochas e em locais quase inacessíveis, e até a própria dimensão de algumas delas, pareceu justificativo suficiente para o estudo. Recordo ainda que, pouco depois de iniciado, foram surgindo (por indicação dos donos/ou arrendatários dos terrenos), possíveis correlações espaciais das pias com as figuras em forma de humanos e animais (usualmente designados “Geoglifos”), assim como com as longas filas de grandes rochas que formam parte das paredes em áreas vizinhas. Toda esta situação, pelo inusitado da sua localização - nos Açores (e devido aos seus misteriosos contornos), foi por mim considerada suficiente para despertar o interesse turístico e a necessária “boa vontade” das entidades directamente responsáveis no alargamento à Ilha Terceira das infra-estruturas necessárias a um enquadrando adequado para estas novas áreas. Tal facto não parece estar a ser levado em conta, o que me fez pensar que, a bem da consolidação desta situação, seria necessário chamar ao cenário novos recursos, neste caso proveniente das “ciências exactas”. Na verdade fui mais levada a essa decisão do que propriamente a planeei racionalmente. Mas seguindo a opinião do Prof. Nash, que considera a vastidão de indicadores da actividade humana neste misterioso cenário, um imperativo merecedor de uma operação interdisciplinar em grande escala (a qual irá conseguir a contextualização apropriada desses indicadores e a revalorização do todo em que se inscrevem), o envolvimento de algumas ciências exactas trará um complemento à “gestalt”, não só do espaço em estudo, mas também da Ilha e do Arquipélago.
Tal alargamento do projecto irá então, em consequência, permitir à Ilha Terceira assumir a posição que lhe cabe, na resposta aos enigmas que encerra e que têm sido escondidos sabe-se lá com que propósitos…. Como objecto de estudos variados a partir dos quais os actuais testemunhos dessa “misteriosa” actividade humana poderão mais facilmente ser incluídos numa visão geral, a Ilha Terceira fornecerá ao mundo mais esse contributo.
Seguindo tal propósito, está presentemente a ser elaborada uma candidatura a fundos Europeus que tornará possível a cooperação de várias personagens centrais no actual campo da investigação em ciências exactas.
Mas a questão coloca-se de novo: qual a posição do mundo perante a actividade humana constatada na Serra do Cume?
Podemos discutir esse e outros aspectos com alguns dos participantes, que estarão na próxima 2ª feira, entre as 18h e as 20h, no Centro Cultural, em Angra.